domingo, 29 de agosto de 2010

ARTE CONCRETA

ARTE CONCRETA

ARTE FIGURATIVA, ARTE ABSTRATA E ARTE CONCRETA
 
 “A arte é apenas um substituto enquanto a beleza da vida for deficiente. Desaparecerá proporcionalmente, à medida que a vida adquirir equilíbrio.” Piet Mondrian

Em épocas passadas, quando o homem vivia em contato com a natureza, e quando ele mesmo era mais natural que hoje, exprimia seu pensamento com traços, combinações repetitivas e desenhos geométricos, que para ele simbolizava algo.

Em geral, assim foi no inicio das civilizações, como podemos comprovar se observarmos os desenhos na arte cerâmica e nos outros utensílios de nossos índios.

Gradativamente, o homem foi desenvolvendo o interesse por representar o mundo visível, imitando a natureza, e durante séculos este sistema foi sendo aperfeiçoado e adotado, principalmente na Arte Ocidental. Esculturas, pinturas e gravuras, deviam ser imagens da realidade.

Entretanto, por uma série de razões históricas e estéticas, alguns artistas europeus no inicio do século 20, procuraram romper com todo um passado de arte figurativa, propondo uma nova maneira de representação.

Para melhor entendimento da arte abstrata há duas tendências principais: uma mais lírica, subjetiva e espiritual e outra mais intelectual, da regra, da geometria, embora as duas tenham em comum uma raiz idealista e mística.

Da primeira, é preciso lembrar do pintor russo Wassily Kandinsky (1886-1944), que já em 1910 fazia aquarelas abstratas. Para ele, toda forma tem um conteúdo, nela mesma, o artista se serve das formas como teclas de um piano, ao tocá-las “põe vibração a alma humana”. Um quadro pode emocionar como a música apenas pelas linhas, formas e cores, mas com autonomia do mundo visível, proporcionando liberdade de interpretação e estímulo para a imaginação.

Da outra tendência, cujas idéias inspiram-se na perfeição das leis cientificas e matemáticas, podemos citar o artista, também russo, Malevitch (1878-1935), que em 1913 declara que: “Para libertar a arte do peso da subjetividade, me refugiei na forma do quadrado negro sobre um fundo branco, os críticos e o público se queixaram.”

O expoente mais seguro do abstracionismo geométrico é Piet Mondrian, holandês (1872-1944), que expõe “a mais pura representação do Universo”, restringindo-se a linhas verticais e horizontais, limitando as cores para as primárias (azul, vermelho e amarelo) e não as cores como o branco e o preto.

Por volta de 1930, com o desenvolvimento do abstracionismo dizer “arte abstrata” era impróprio, pois ela não abrangia representações tão diversas.

Assim, nesse mesmo ano, o artista holandês Theo Van Doesburg, declara que: “Pintura concreta e não abstrata, pois nada é mais concreto, mais real que uma linha, uma cor, uma superfície... Uma mulher, uma árvore, uma vaca, são concretos no estado natural, mas no estado de pintura são abstratos, ilusórios, vagos, especulativos, ao passo que um plano é um plano, uma linha é uma linha, nem mais nem menos.”

O movimento concretista encontra precedentes imediatos nos holandeses Mondrian e Theo Van Doesburg, que rejeitam a subjetividade e criam um idioma plástico universal. No movimento russo, o construtivismo, que além de uma arte visual e abstrata, propõem um arte integrada à ciência, à técnica, à transformação social. Na Bauhaus (Alemanha, 1919-1933), Escola Superior de Criação Industrial que leva a arte para o design.

Seguidor das idéias de Theo Van Doesburg, Max Bill, nascido na Suíça, em 1908, dá continuidade ao concretismo a partir de 1936. Sediado na Suíça, o movimento espalha-se pela América Latina, Argentina e, posteriormente, Brasil e Alemanha.

Em 1950, o MASP (Museu de Arte de São Paulo) organiza uma exposição do conjunto das obras de Max Bill – arquitetura, escultura e pintura –, que foi fundamental para o conhecimento da arte concreta no Brasil.


ARTE CONCRETA NO BRASIL

A época da penetração e desenvolvimento da arte geométrica no Brasil coincide com a euforia de desenvolvimento do pós-2ª Guerra Mundial, com a implantação de indústrias nacionais como a automobilística, a criação da Petrobras, siderúrgicas, o crescimento das cidades e novos meios de comunicação, como a televisão.

Importante lembrar que, no mesmo período, houve a criação do Museu de Arte de São Paulo (MASP), em 1947, e do Museu de Arte Moderna (MAM), em 1948, que se empenharam em formar acervos e promover exposições.

Fundamental citar também a criação da I Bienal Internacional de São Paulo, em 1951, que divulgou artistas nacionais e internacionais, proporcionando contato com diversas tendências internacionais. Na mesma data, já se esboçava o movimento concreto, em São Paulo e no Rio de Janeiro.

O marco histórico na Arte Concreta no Brasil é o Grupo Ruptura, paulista, que apresenta um manifesto em 1952, Manifesto Ruptura, lançado na exposição do MAM de São Paulo, e assinado por: Waldemar Cordeiro, artista e portavoz do grupo, Sacilotto, Lothar Charoux, Anatol Wladyslaw, Kazmer Féjer, Leopold Haar e Geraldo de Barros. Este grupo queria criar formas novas de princípios novos, baseavam-se numa teoria rigorosa.

Em 1956 é realizada no MAM, São Paulo, a I Exposição Nacional de Arte Concreta, ocasião que é lançado o Manifesto da Poesia Concreta (interação de conceber o poema como um todo matematicamente planejado).

Neste momento, as divergências entre os grupos concretistas Frente (Rio) e Ruptura (São Paulo) vêm à tona. Os artistas cariocas, sem abrir mão do vocabulário abstrato, querem liberdade de criação, sem o rigor dos paulistas.

É o neoconcretismo, cujo manifesto aparece no catálogo da I Expo Neoconcreta (1959) com trabalhos de Amílcar de Castro, Ferreira Gular, Franz Weissmann, Lygia Clark, Lygia Pape, Reinaldo Jardim e Théon Spanudis.

Os elementos principais do concretismo são:

    Aspiração a uma linguagem de comunicação universal, com autonomia da arte com o mundo exterior.

    Integração do trabalho de arte na produção industrial, crença na tecnologia.

    Função social, informação a todos, aplicação em todas as áreas de comunicação visual, ao artista cabe contribuir de modo abrangente  para a socialização da boa forma, no design, na tipografia, etc.
   
    Utilização tanto no suporte como na matériaprima de materiais industrializados, produzidos em série, como ferro, alumínio, tinta esmalte, etc.

    Baseiam-se no rigor geométrico, na matemática, que estrutura ritmos e relações.

    Eliminam o gesto, o sinal da mão. O desenho é preciso, feito com régua e compasso.

O concretismo conhece seu período mais ativo nos anos 50.


LUIZ SACILOTTO (1924-2003)

Nasceu em Santo André, no ABC Paulista, em 1924, filho de imigrantes italianos. Formou-se no Instituto Profissional Masculino, no Brás, onde estudou técnicas diversas relacionadas às artes e ofícios, como desenho e pintura.

Seu primeiro emprego, aos 17 anos, foi como desenhista de letras de alta precisão. Durante muito tempo atuou como desenhista técnico, trabalhou em escritórios de arquitetura e projetou esquadrias de alumínio para produção em série.

Desenhava nas horas vagas, e seu aprendizado veio principalmente pelo seu profundo interesse em artes plásticas e pelas conversas com os amigos, também artistas. No início, seus trabalhos são figurativos. Paisagens e retratos de tendência expressionista, mas a partir de 1947 realiza suas primeiras experiências no domínio da abstração geométrica, sendo um dos pioneiros da arte concreta no País.

Participa de exposições em São Paulo e no Rio de Janeiro, e em 1951, com apenas 27 anos, participa da I Bienal Internacional de São Paulo, estará presente ainda na II, III, IV, VI e VII Bienais Internacionais de São Paulo.

Em 1952, participa da XXVI Bienal de Veneza e, em dezembro do mesmo ano, é um dos signatários do Manifesto do Grupo Ruptura, em São Paulo, e expõe com eles no MAM, SP.

Em 1956, participa da I Exposição Nacional e Arte Concreta em São Paulo e no ano seguinte no Rio de Janeiro.

Em 1960 está presente na Exposição Internacional de Arte Concreta, organizada por Max Bill Zurique, na Suíça, que projeta nossos artistas internacionalmente. É homenageado em 1968 com Sala Especial no I Salão de Arte Contemporânea de Santo André. Interrompe temporariamente seu trabalho criativo, e dedica-se à sua própria empresa de esquadrias metálicas. Recomeça com alguns estudos em guache e experimenta na década de 70 novas linguagens, como a serigrafia. A serigrafia é uma técnica plana em gravura, utilizada na indústria e feita com tinta gráfica, como silk em camisetas.

Como figura central do concretismo continuou a participar de exposições nacionais e internacionais, ganhou vários prêmios, retrospectivas e teve suas obras expostas nos principais museus e coleções particulares.

Sacilloto foi pintor, desenhista e precursor da escultura de vanguarda. Desde a década de 50 conquistava e pensava o espaço tridimensional a partir de desdobramentos do plano, revelando a complexidade do simples. Usava materiais industriais, como chapas de alumínio, de latão, de ferro, que ele cortava e dobrava, em constantes variações. Sua obra reflete seu pensamento claro e ordenado. Faleceu no dia 9 de fevereiro de 2003 no ABC paulista.

Saiba mais em: www.sacilotto.com.br
 
Autoras: Simone R. Martins e Margaret H. Imbroisi
www.historiadaarte.com.br©
Design: Márcio Lopes

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